27.12.16

CARA LEGAL



Houve um tempo em que eu ingenuamente cheguei a acreditar que a autenticidade quase total era a forma honesta de comportamento.
Tinha para mim que os papéis sociais que somos levados a desempenhar todos os dias da nossa vida, praticamente desde o nascimento, eram por assim dizer, honestos, apenas da porta da rua pra fora. Ou seja, as pessoas que nos são caras DEVERIAM ser poupadas da balela social que nos é imposta.
Para alguém que eu amava, respeitava e queria verdadeiramente bem, era proibido usar qualquer máscara social, isso era equivalente a incorrer em falsidade ou indiferença.
Na prática, isso resultou que em vários momentos fui tomado por grosseiro ou ríspido, quando na verdade eu estava apenas tentando ser cem por cento honesto com os que me importavam mais. 

Houve sempre quem percebeu a diferença e quem não percebeu. Para estes últimos eu aparentava apenas ser mal educado.

De um modo geral, as pessoas preferem a forma ao conteúdo. De um modo geral, é preferível ser agradável da casca pra fora, sem importar o que tem dentro.
Algumas das pessoas mais filhas da puta que conheci eram pessoas muito agradáveis.
A chamada educação, os sorrisos, os “bom dia”, “boa tarde” e “boa noite”, não passam de vaselinas sociais, mas, incrivelmente há quem caia nessa. Aliás, a maioria cai.
Como não passo de “mais um” nessa sociedade de macacos pelados que se acham grande coisa, quem sou eu para subverter a ordem da macaquice?

Decidi então: que se foda! Que triunfe a forma!

Vou tentar ser uma cara legal daqui para frente. Vai ser difícil pra mim, não sou muito bom em fingir, mas isso também se aprende. Afinal, o esforço pela forma exige compensações, eis o cerne e a justificativa da filhadaputice e da própria forma.

Pessoas legais se dão bem. Pessoas legais são bem vistas e aceitas pelos que lhes rodeiam.
Quem não quer se dar bem?

Fico imaginando se o Führer tivesse sido uma cara mais “cool” qual seria a imagem dele hoje perante o restante dos terráqueos...
Certamente seria um ídolo de multidões, pois, se mesmo tendo sido um mala conquistou prosélitos. Se tivesse sido simpático, “gente fina”, talvez o holocausto fosse apenas boato.

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22.12.16

O melhor lugar do mundo



Deve ser consenso que variar a rotina é bom.
Quando o que buscamos pra associar à felicidade não está em nós, variar a rotina é fundamental.

A felicidade...

Alguns tipos de felicidade são compráveis. Umas custam bastante, outras, custam muito mais.

As felicidades...

Quando se compra felicidade, pode ser que o melhor lugar do mundo seja a nossa casa. Dependendo do tipo de felicidade comprada, esse lugar só pode ser a nossa casa. Essa felicidade custa caro.

Quando se compra felicidade, pode ser que o último lugar do mundo seja a nossa casa. Dependendo do tipo de felicidade comprada, esse lugar jamais será a nossa casa. Essa felicidade custa à alma.

Os suspiros...

Felicidades... Suspiros...

Felicidades compradas, sempre – repito – sempre andam acompanhadas de suspiros. Todos dolorosos.

Certo é que o melhor lugar do mundo é a nossa casa. Há, porém, outros lugares. Nossa casa não é uma prisão.
Exceto quando a felicidade associada a ela não vem de dentro.


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16.12.16

Devil In Me


Certa vez, assistindo um desses canais de música na TV a cabo, me deparei com um documentário/especial sobre o Thiago Pethit.

Não apenas não conhecia seu trabalho, como, nunca tinha ouvido falar em Thiago Pethit.

Achei o documentário interessante, porém, a certa altura do programa ele toca - se não me engano apenas com um violão de nylon - essa canção terrificante.

Tá. A música é linda. Terrificante é a atmosfera, a letra, a cadência, enfim... e isso deu pra perceber apenas com o violão.

Cada vez que eu ouço essa canção ela me absorve, me convida à reflexão, ao mergulho interior, bem no meio de batalhas entre anjos e demônios internos.

Ainda mais com esse arranjo hipnótico da versão de estúdio.

Deixo aí o link para o soundcloud e a letra para apreciação:







If I sell my soul to the devil
I'm the devil, got the devil in me
If I give my heart to the devil
I'm the devil, got the devil in me
If I share my body with the devil
I'm the devil, got the devil in me
If I say I´m in love with the devil
As high as I can be
Come devil to me

I've got the devil in my arms
I've got the devil in my head

Babe, I've got the blues so bad
Eu vendi minha alma pra saber que o diabo sou eu

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3.10.16

Soco em Ponta de Faca



Que a vida não é um morango encantado é obvio, acho que para qualquer pessoa adulta com um mínimo de senso crítico e um pingo de consciência, isto é óbvio.


Há épocas porém, que a própria vida se supera.



Como ratos em um labirinto vamos seguindo em frente, sem saber aonde entrar ou não entrar.



Um belo dia, no que aparenta ser o curso natural das coisas, eis que se apresenta a hecatombe. Como ratos que não sabem o que está acontecendo, nos perguntamos: por que? Por que, Deus? Por que? Onde foi que eu errei? Eu não estava só fazendo o que eu sempre faço? Em vez de uma pista para a saída, isso? Por que?



É curioso o fenômeno da empatia, ou a falta de.

Todo mundo tem uma "palavra amiga", um conselho, ou qualquer palavra mais sábia. Enfim, deliberar sobre o problema alheio é sempre muito mais fácil.


É verdade que na vida quase tudo é apenas uma questão de parâmetro. O que é muito grave para um pode ser corriqueiro para outro. Tudo se resume a estar na pele de quem sofre, e isso somente é possível sendo o próprio sofredor. Empatia é uma falácia nestes casos!



Há quem observe uma mão cortada de tanto esmurrar ponta de faca e acredite mesmo que consegue sentir a dor pungente que acomete ao dono da mão.

Há quem observe a mesma mão e não sinta nada.
Fato é que somente o dono da mão conhece a dor que lhe aflige.


Assim como essa manifesta diferença na capacidade de se colocar no lugar do outro, uns aguentam mais dor e outros menos. Mesmo quem aguenta mais, às vezes, cansa de dar soco em ponta de faca. A dor modifica convicções. Sob tortura vários confessaram crimes que não cometeram. Por causa da dor.

O que dizer então de meras convicções?


Eu costumava usar uma frase que eu supus ter inventado, mas, ela é tão boa que alguém já deve ter dito isso antes:



"A pior verdade, é sempre melhor do que a melhor mentira, simplesmente por ser a verdade"



Mais uma convicção que se vai...



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18.5.16

Remanescentes (II)



     As músicas do Nacional sempre foram as mais queridas (não por mim hehehe). A gurizada que acompanhava nosso som (alguns punks da Osvaldo) sempre se referia aos sons do Nacional quando falava de nós. Claro que isso me dava uma ponta de inveja, afinal, as minhas músicas nunca eram mencionadas espontaneamente. As músicas dele eram simples e muito, mas, muito rápidas. Sobre as letras, posso dizer que mesmo nós dois sendo amigos, eu nunca entendi direito a motivação das letras (a música que eu achava mais legal falava sobre Aspirina!). Acho que esse conjunto - simplicidade e rapidez - era o que tornava as músicas acessíveis.

     O próximo vídeo é de uma música também do Nacional - Justiça Pra Todos - daquele mesmo showzinho no Colégio Becker do outro post. O engraçado dessa música era que quem não conhecia, antes da gente tocar em algum lugar, perguntava: - vocês fazem uma versão do Metallica né? Eu pensava comigo: Puta que pariu! O cara acha que a gente fez uma versão de "...And Justice For All". Deixa o cara se decepcionar sozinho hahaha.



Remanescentes - Justiça Pra Todos - Col. Dom João Becker - 18/10/1997


     Sobre a foto do início, foi tirada num show no extinto Bar Fim (ou era Brugalli?), que ficava ao lado do João na Osvaldo. Fazia parte do também extinto projeto 10000 e Uma Noites da Suely e do Luiz. Não faço ideia de quem tirou essa foto ou como ela veio parar nas minhas mãos, mas a data foi algo entre 1998 e 1999. Tinha umas 12 pessoas lá dentro, e o mais impressionante: pagava-se 1 real pra entrar!

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11.5.16

Remanescentes (I)


Remanescentes


      O local era o Colégio Estadual Dom João Becker (Porto Alegre - RS), a data foi 18/10/1997.
      Nós éramos "Os Remanescentes". Teríamos sido uma banda de garagem, se alguém da banda tivesse uma garagem. A verdade é que éramos um bandinha de hardcore /punk rock bem "mais ou menos" (pra não dizer ruins). Chegamos a fazer um showzinho aqui e outro ali, mas, na época não era que nem hoje - que todo mundo tem algum dispositivo de gravação de vídeo portátil a um aperto de botão de distância - logo, esse e os outros vídeos que eu vou postar aqui compõem o único registro em vídeo que restou daquela saudosa fase.
     O responsável pelas imagens foi o nosso afável Vinícius (Pudera). Com uma camerazinha VHS portátil fez milagre.

     A banda era:

     - O hoje desaparecido - Ricardo (C-pultura) nos vocais lamentáveis e guitarra chinelona;
     - O ainda demente - Marcelo (Nacional) no baixo com cordas remendadas;
nesse vídeo quem toca bateria é
     - O hoje morto para o rock 'n roll - Fabrício (Pesseguinho);
mas, depois dele e por mais tempo (eu acho) nosso batera foi
     - O eterno junkie - Pércio Jr. (Negão);
     - Na guitarra com timbres horrorosos e nos vocais de cachorro louco era eu.

     E sim, acreditem, o nosso logo era aquele "Os Remanescentes" ali em cima, escrito com a fonte Creepy do MS-Word. Era tri moda na época.

     Fica aí o primeiro vídeo então:
Remanescentes - Ácido Acetilsalicílico - 18/10/1997

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